coxeio pela vida mas dêem-me
um alvo e de coração aberto
entre a baixeza das nuvens em visita
acerto com as flechas do pensamento
minto estou perdido
no meu exílio isolado na ínsula
que perdoa donne sou
coxeio pela vida apoio-me nas coisas
sem as palavras justas
o justo olhar perfurante
sigo por ela a contracorrente
sem compreender o que diz quem me fala
escutando surpreso o que falam sem nada dizerem
fui enganado trocado largado
e posto fora do bando calcorreei assim
a margem das decisões sobre a minha vida
a solidão floriu como um vírus
e de todo o meu corpo exalo
uma tristeza pestilenta conhecida
apenas pelos abutres hienas e
os moribundos por quem eles e elas esperam
vejo no pleno horizonte vertical
quantas cartas lembranças promessas
exibições de amizades se faz o novo mundo
aqui as garrafas estão vazias e a um canto
– chamo-lhe instalação nos meus dias
intelectuais – enchendo-se de pó – noutros
minha cidade de cristal para o reino dos insectos –
tal como a essa outra penélope os barcos deixaram
de fazer escala à minha porta e janela
partilho com ela a mesma dúvida
coxeio então pela vida foi o ganho
na batalha pelo amor e a beleza
o coração hoje destila fel e pus
talvez um dia sabendo-me enganado
volte a essa guerra e os meus poemas
flechas embebidas no meu sangue
te atinjam inesperadamente e te dignes
a caminhar a meu lado nus
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