segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Galway Kinnell - Os sapatos de errância (fim)



6

Nesta estrada,
na qual desconheço como pedir pão,
na qual desconheço como pedir água,
este caminho
inventando-se a si mesmo
através de selvas de carnes queimadas, chão de chão
de ossos, cruzando-se a si
perante o odor de sangue, e continuando a cambalear,

anseio pelo manto
dos grandes caminhantes, que iluminaram
os seus passos à luz da lâmpada
da pura fome e da pura sede,

e por qualquer caminho que erravam era o caminho.


7

Mas quando a Maga
segurou à lua a minha caveira de cristal,
quando passou as minhas omoplatas
ao longo das estrelas de Aquário, ela disse:

Tu vives,
sob o Signo
do Urso, que se debate através do caos
na sua gordura estrelada:
pobre tolo,
pobre ramo bifurcado
de macieira, sentirás todos os teus ossos
quebrarem-se
sobre as águas sagradas de que nunca beberás.


in Galway Kinnell, The Book of Nightmares, Boston & New York, Houghton Mifflin Company, 1971: 22-23

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