Ao crepúsculo, à beira do Juniata azul –
“uma América rural,” dizia a revista,
“agora desaparecida, mas existindo na memória,
um jardim primordial perdido para sempre...”
(“Estás a ver,” disse à Mamã, “nós só pensamos que estivemos aqui...” –
os caçadores de raízes
vão para as florestas, arrancam
raízes-de-amor das clareiras virginais, dobram
os caules com as alças das pás
levantam-nas, o enorme,
grave, estrondo
final à medida que as raízes se separam do seu lugar.
4
Pegue numa chaleira
de água azul.
Ferva sobre um torcido lume
de cinzas de madeira. Moa a raiz.
Ponha dentro. Deixe macerar. Reaqueça
sobre as cinzas cinzas. Engarrafe.
Rolhe com um polegar
de um morto. Amadureça
por quarenta dias em esterco de cavalo
num lugar selvagem. Beba.
Durma.
E quando acordar –
se acordar – será no ano sótico
feito pelos selvagens crescidos
dos fragmentos todos inacabados
dos anos passados, sobras
e abandonos da mortalidade do tempo
não poderiam triturar para a sua refeição de sangue e riso.
E se houver mais um amor
a ser reconhecido, mais um poema
a ser aberto para a vida,
encontrá-lo-ás aqui
ou em lado algum. A tua mão mover-se-á
por si própria
ao longo da via curva, atraída
pelo terror e a lura medonha
do vácuo:
um rosto materializa-se nas tuas mãos,
na absoluta brancura de páginas
um poema escreve-se a si mesmo: o seu título – o sonho
de todos os poemas e o texto
de todos os amores – “Ternura em relação à Existência.”
in Galway Kinnell, The Book of Nightmares, Boston & New York, Houghton Mifflin Company, 1971: 28-29
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