um instrumento para a vida
assim o canto do melro a cortar
as trevas da noite a onda um lençol
cobrindo as marcas dos corpos
dos amantes nas suas contorsões de despedida
lâminas vegetais pelas negras fracturas
o mudo grito da vagina e a água matricial
para a nossa vinda aquática o interesse
no olhar do gato no para lá
de uma invisível fronteira de areia
ohno kazuo persistindo na dança após um século
quando já o corpo dava de si abraçando a paralisia
também nós teimosamente como
o secretamente sabemos fechando os olhos
arrastando o cadáver de uma relação
mesmo face ao desenlace é para a vida
ainda que o rosto se vira
vendo a morte estendendo os braços
para o beijo que leva o sopro
de retorno à vida
Berlim - Bad Meinberg
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