segunda-feira, 2 de abril de 2018

As horas para um poema - 6

6 (1:24-1:31)

imbuído de ânimo
abres caminho até ao corpo
ainda molemente adormecido

o calor que emana e os cheiros que exala
entregue assim na sua nudez
erigem em ti a bússola do desejo

fingindo dormir recebe-te
com água e fogo
segurando-te pela raiz
lavra os lábios como um arado
até uma flébil fonte deixar correr o seu fio
amolece uma pérola justo uma vogal
se formar nas duas bocas
e no sulco leva a raiz ao fundo
e dança e poesia suspendem a sexta hora

as cadelas suspiram ansiosas
a salamandra apaga-se a noite despede-se
a luz vem da estrela que adoramos
e a coreografia cessa entre suor e ofegar
ela parte nas pontas dos pés depois de
beijar os animais que nos (a)guardam
e enrolando o cabelo num nó
deixa-nos para penetrar nas águas do dia

preparas comida e líquidos vegetais
diante de ti um caderno de par em par
oferece as suas páginas brancas
(sem pauta é certo escrever torto)
fechas os olhos e deixas o mundo
destas seis horas soçobrar a tua mão

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